Queridas mulheres, 

Historicamente o dia 08 de março acabou se tornando o Dia da Mulher. É um dia marcante para as mulheres defenderem sua dignidade e combaterem todas as formas de violência e discriminação. Esse ano, eu, Martha Maria dos Santos, presidente do SINPRF/BA gostaria de exaltar as nossas lutas, em sua maioria diária. Quantas vezes fervemos panelas, cuidamos das crianças, organizamos a casa para outras pessoas, sem rompermos o silêncio e sem que alguém se desse conta?

A força de uma mulher não é medida pelo impacto que todas as dificuldades tiveram sobre ela, ao longo de sua vida, e sim, pela extensão de sua recusa em permitir que essas dificuldades ditem quem ela é e quem ela se tornará. Uma das maiores dificuldades não é financeira e nem é causada pela própria mulher, é o percalço de viver em uma sociedade machista. Onde o preconceito já existe por você ter nascido mulher, ser subjugada a todo tempo atrapalha, e muito, nossa caminhada. 

Isso se intensifica ainda mais se você faz parte de outras “minorias”,  como mulheres negras, indígenas, quilombolas, transexuais, lésbicas, camponesas e faveladas. Tais personagens, em sua dimensão sócio-histórica, precisam desesperadamente de um movimento que enfrente de frente as diversas formas de desigualdade (racial e de gênero). Além da questão socioeconômica, temos um padrão a ser seguido, onde até os nossos corpos entram em pauta, somos julgadas por sermos altas ou baixas, gordas ou magras, etc. Precisamos juntar nossas forças e não reproduzir esses tipos de julgamentos, nem aceitar que eles sejam feitos à nossa classe. 

Ingressei na polícia em 1994 e, posso dizer com toda certeza, foi muito difícil e muitas vezes ainda é. Se hoje ainda somos em menor número, naquela época era como se eu fosse de outro mundo. Sei que isso se extende em diversas áreas da sociedade, por exemplo, no congresso nacional, ocupamos menos de 20% de todas as bancadas. Por isso, procuro fazer da minha gestão no SINPRF/BA mais inclusiva, com uma frente feminista em apoio e cuidado às nossas sindicalizadas. 

Não apenas por ser mulher, mas por ser mulher e negra, muitas vezes sou a única representante dessa parte da sociedade nos eventos e congressos que participo, principalmente em ambiente policial, e isso me entristece muito. Busco todas as vezes levar a nossa voz e fazer com que nos ouçam, mesmo com as dificuldades enfrentadas com meus próprios colegas. Porém, nem tudo é difícil, recebo muitos abraços e agradecimentos por ter chegado onde cheguei, sendo uma mulher negra! E muitos desses abraços vêm da comunidade, universidades, reitores, professores e parlamentares. 

Tenho muito orgulho de construir essa relação de afeto com todos. Onde tem mulher tem também esperança, organização coletiva, afeto, ousadia e acolhimento. Assim, essa mensagem é um convite à reflexão sobre a relevância desta pauta, que todos os dias as mulheres sejam reconhecidas e valorizadas por seu trabalho e legado. Temos muitos desafios, mas vamos seguir na linha de frente, porque a história também é nossa e vamos colocar o nosso ponto de vista, escolhas e posicionamentos em vigor. Já vivemos por muito tempo apenas ouvindo e aceitando a narrativa masculina, queremos ser ouvidas também! 

Att,

Toda equipe do SINPRF/BA